SER ANTI-ISRAEL É ANTI-SEMITISMO?
Esta pergunta, se respondida na afirmativa, tornou-se um excente
pretexto para os israelenses continuarem a ocupação e, mais adiante, anexar os
territórios conquistados em 67 em seu poder, completando, assim, o que é conhecido
como o Grande Israel, o que impedirá a criação de um estado palestino.
Se
respondida na negativa, aprova, tacitamente, que o movimento BDS (Boicott,
Divestment, Sanctions) é puro, cristalino e bem intencionado e pretende apenas
defender o direito dos palestinos a um estado ao lado de Israel.
O que não é
exato, já que anti-semitas estão infiltrando o movimento.
Portanto, nenhuma das
duas respostas é satisfatória. Nem todos os que protestam contra a ocupação e
acham justa a luta dos palestinos pela criação de seu estado são,
necessariamente, anti-semitas. Como nem todos os que apoiam Israel
incondicionalmente, podem negar que muitos erros e injustiças foram e são
cometidos contra os palestinos durante os 47 anos de ocupação.
Por outro lado, é inegável, que anti-semitas estão “pegando carona” e
aproveitando a oportunidade para soltar seu veneno contra os judeus, hoje
configurado pelo Estado de Israel.
Se bem que para os israelenses a pergunta seja meramente retórica, ela
não deixa de ser importante na luta pela sobrevivência de Israel. A opinião
pública mundial conta. Se Israel perder definitivamente a batalha pela opinião
pública, será derrotado moralmente, ficando vulnerável a crescentes boicotes
que poderão levar sua economia a grandes dificuldades.
E sanções econômicas
funcionam. Vejam o que fizeram as sanções ao Irã. Orgulhoso e fanatizados, os
aiatolás se renderam. Se bem que o capítulo Irã ainda não tenha acabado,
tiveram que aceitar a intervenção internacional e suspender o enriquecimento de
urânio a 20% que lhe permitia, num período pequeno de tempo, voltar ao seu
programa nuclear militar. Outros exemplos existem, como a África do Sul que
acabou com o apartheid.
MISSÃO DE JOHN KERRY ATACADA
Ultimamente, setores de direita em Israel, interessados em manter a
ocupação, passaram a atacar o Secretário de Estado, John Kerry, que foi
encarregado por Obama a tentar diminuir as diferenças entre israelenses e
palestinos e tentar uma solução.
Propõe que um estado palestino seja
criado, mais ou menos, nas linhas vigentes antes de 1967. Solução que é
apoiada, em princípio, por Nataniahu, que se nega, porém, a um retorno às
linhas de antes da Guerra dos 6 Dias. Kerry sabe que qualquer solução passa
pela criação de um estado palestino.
O problema é, como e onde será criado tal
estado. Propôs que seja tomado como base as fronteiras de antes de 1967 (sem os
territórios ocupados. Afinal, para sobreviver um estado palestino terá que ter
territórios suficiente. A proposta de Kerry provocou uma reação desagradável. Foi
acusado por um ministro que representa os colonos no Gabinete, Naftali Benet,
de ser missionário e obcecado e de interferir na política interna de Israel.
Mais tarde, vendo a burrice de suas palavras, se deculpou.
Israel precisa ter muito cuidado ao atacar o Secretário de Estado
americano., Não que não se possa criticar ou mesmo se recusar a engolir
qualquer pílula que os americanos ponham na boca de Israel. Mas, há limites
momentos adequados. Acusar John Kerry, um amigo comprovado de Israel
no Senado, que está tentando cumprir a difícil missão que seu presidente lhe
atribuiu, de anti-Israel?
Quem conhece o senador Kerry e sua posição
pró-Israel, deve respeitá-lo. Israel não pode se dar ao luxo, como pénsam
alguns fanáticos de direita, confrontar publicamente o atual governo dos EUA.
Não devemos esquecer que Israel, com todos os seus Prêmios Nobel, ainda depende
da América em quase todos os campos.
Estes dias, a assessora de Obama para
assuntos internacionais, Susan Rice atacou os dirigentes israelenses considerando
os ataques a Kerry como injustos e contra-producentes. Felizmente, como
anunciou ontem o NY Times, grupos americanos de apoio a Israel, entendendo a
situação dizem apoiar a missão de Kerry. Não querem piorar ainda mais o
relacionamento com Washington.
O problema reside com os fanáticos nacional-religiosos, em sua maioria
moradores dos assentamentos nos territórios ocupados, e, portando interessados
em defendendo a sua propriedade. A TV 10 de Israel mostrou esta semana, algumas
casas grandes e até luxuosas construída em terreno grátis e mão de obra barata
de palestinos à procura de trabalho, escasso na região já que não podem mais
trabalhar em Israel.
Claro que quem possui uma propriedade que custou 60 ou
70.000 U$ e que dentro de Israel custaria mais de um milhão de US$, se oporá a
qualquer acordo de paz que provoque sua desocupação. Quer dizer, seu interese
pessoal, está acima do nacional.
LEGISLADORES AMERICANOS PEDEM NOVAS SANÇÕES CONTRA O IRÃ
Senadores e congressistas americanos, liderados pelo chairman do Comitê
de Relações Exteriores do Senado, Robert Menendez, estão propondo novas sanções
contra o Irã, argumentando que o acordo de princípios com os iranianos não
durará e os mesmos voltarão a pôr as turbinas em funcionamento, alguns meses
após a suspensão total das sanções. Alegam que o Irã está firmemente decidido a
produzir algumas bombas nucleares e tornar-se uma potência atômica na região.
Quer igualar-se a Israel, que apesar das reticências, ninguém tem mais dúvidas
que possui um grande estoque.
Acreditam que até Obama
conseguir restaurar as sanções, haverá tempo bastante para trabalhar,
principalmente por que a maior parte da infra estrutura permenecerá intacta. Em
Israel, a maioria dos observadores, entendidos em Irã, concordam que os
persas voltarão a marchar firmemente em direção à fabricação de armas
nucleares tão logo possam fazê-lo sem prejuízo à sua economia.
Por isto,
o poderoso lobby israelense, o AIPAC, está estimulando a legislação anti-Irã.
Obama, que já está irritado com os israelenses por diversos motivos (vejam a
nota acima) vai colocar na coluna negativa esta tentativa
Republicana/Israelense de castigar o Irã, que o presidente considera “fera
domada”.Já hoje, 06/02/14, apareceu uma novidade.
O sorridente Min das Relações
Exteriores iraniano, Javad Zarif, (foto abaixo) respondendo a críticas da
negociadora americana Wendy Davis, escreveu em sua página no FaceBook, que “os
reatores Fordow e Arak são inegociáveis. Intocáveis. Precisa mais para desconfiar
das intenções iranianas?
MINISTRO DA FAZENDA - ”QUEM NÃO CONTRIBUI NÃO
RECEBE”
Na frase acima, o ministro da Fazenda, Yair
Lapid, se referia aos religiosos ortodoxos que não trabalham nem estudam como
todos os jovens em Israel. Frequentam yeshivot.
Alegam que graças a eles, os
yeshiva-boys, Israel é defendida de seus inimigos. Se não estudarem a Torá todo
os dias, Israel está perdido. E outras asneiras que não ocuparei o tempo dos
leitores.
Estes dias, além da revolta do Min da Fazenda, o Supremo Tribunal de
Recursos de Israel, a pedido de organizações que defendem a igualdade de
direitos, soltou uma decisão mandando suspender pagamentos às Yeshivas (que o
repassam aos alunos). Justificando a decisão o juiz relator escreveu, entre
outros, “receberam a ordem de alistamento no exército e não se apresentaram.
Por isto, não podem receber auxílio do governo. Só se o comando das
forças armadas mandar em contrário”. Até hoje, os militares não se manifestaram
sobre o assunto. Aguardemos. Como os ortodoxos não estão na coalizão
governamental, o 1º. Ministro também não tem pressa.
Decisão corretíssima do
Supremo. Quando o pagamento para estudantes de yeshiva foi instituído eles eram
uma pequena minoria. Dado que no meio ortodoxo é proibido evitar gravidês,
cresceram e se multiplicaram. Quem não quer prestar serviço militar,
simplesmente, transformava-se em estudante de Yeshiva. Hoje, são uma fonte de
problemas e insatisfação. Aguardemos o cumprimento da decisão do Supremo.
Foto acima - Alguns religiosos sentem vergonha e
se alistam.
APOIAR
BOICOTE, MAS SÓ DE PRODUTOS DAS COLÔNIAS
Estou com
os escritores Amos Oz e David Grossman. Não podemos combater efetivamente o
BDS-Boicote-Desinvestimento e Sanções, sem se opor à ocupação dos territórios
que impede a criação de um Estado palestino, a única solução que salvaguarda a
integridade física, política e moral do Estado judeu.
A permanência e a
ampliação da colonização da Cijordânia terminará com a criação de um estado
binacional, onde judeus e muçulmanos, após decênios de guerras e ódios tentarão
viver juntos num mesmo Estado. Ter em mente as inúmeras divisões de países que
não conseguiram viver em paz interna com populações diferentes.
Vejam o destino
da Checoslováquia, que voltou a ser dois países: a República Checa e a
Eslováquia. Ou a Yugoslávia que se dividiu em 4 diferentes países quando a
convivência entre seus cidadãos de diversas etnias e religiões tornou-se
impossível. A própria grande União Soviética deixou de ocupar de diversas
repúblicas, hoje independentes de Moscou.
Algo inacreditável está acontecendo
em Israel: uma cegueira generalizada para o óbvio.
Sem a criação de um país
palestino, jamais poderemos viver em paz. Mas de onde vem esta cegueira que
atacou este povo reconhecidamente inteligente,perguntará o leitor?
O país foi
sequestrado por um bando de nacional-religiosos cujo fanatismo lhes impede de
ver o que vem pela frente. O desaparecimento da maioria judaica em Israel.
Espero que Nataniahu, que vem, ultimamente, demonstrando uma visão mais
clara do futuro e reconhecendo a necessidade da criação de um estado palestino,
encontre a coragem e a habilidade para permitir a única solução viável: a
existência neste pedaço de terra de dois países, um para cada povo.
Na foto,
mais um colônia em construção.
David Tabacof - 06/02/2014
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