quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

SER ANTI-ISRAEL É ANTI-SEMITISMO?

SER ANTI-ISRAEL É ANTI-SEMITISMO?


Esta pergunta, se respondida na afirmativa, tornou-se um excente pretexto para os israelenses continuarem a ocupação e, mais adiante, anexar os territórios conquistados em 67 em seu poder, completando, assim, o que é conhecido como o Grande Israel, o que impedirá a criação de um estado palestino.  

Se respondida na negativa, aprova, tacitamente, que o movimento BDS (Boicott, Divestment, Sanctions) é puro, cristalino e bem intencionado e pretende apenas defender o direito dos palestinos a um estado ao lado de Israel. 

O que não é exato, já que anti-semitas estão infiltrando o movimento. 

Portanto, nenhuma das duas respostas é satisfatória. Nem todos os que protestam contra a ocupação e acham justa a luta dos palestinos pela criação de seu estado são, necessariamente, anti-semitas. Como nem todos os que apoiam Israel incondicionalmente, podem negar que muitos erros e injustiças foram e são cometidos contra os palestinos durante os 47 anos de ocupação.

Por outro lado, é inegável, que anti-semitas estão “pegando carona” e aproveitando a oportunidade para soltar seu veneno contra os judeus, hoje configurado pelo Estado de Israel.  

Se bem que para os israelenses a pergunta seja meramente retórica, ela não deixa de ser importante na luta pela sobrevivência de Israel. A opinião pública mundial conta. Se Israel perder definitivamente a batalha pela opinião pública, será derrotado moralmente, ficando vulnerável a crescentes boicotes que poderão levar sua economia a grandes dificuldades.

E sanções econômicas funcionam. Vejam o que fizeram as sanções ao Irã. Orgulhoso e fanatizados, os aiatolás se renderam. Se bem que o capítulo Irã ainda não tenha acabado, tiveram que aceitar a intervenção internacional e suspender o enriquecimento de urânio a 20% que lhe permitia, num período pequeno de tempo, voltar ao seu programa nuclear militar. Outros exemplos existem, como a África do Sul que acabou com o apartheid.

MISSÃO DE JOHN KERRY ATACADA

Ultimamente, setores de direita em Israel, interessados em manter a ocupação, passaram a atacar o Secretário de Estado, John Kerry, que foi encarregado por Obama a tentar diminuir as diferenças entre israelenses e palestinos e tentar uma solução.  

Propõe que um estado palestino seja criado, mais ou menos, nas linhas vigentes antes de 1967. Solução que é apoiada, em princípio, por Nataniahu, que se nega, porém, a um retorno às linhas de antes da Guerra dos 6 Dias. Kerry sabe que qualquer solução passa pela criação de um estado palestino. 

O problema é, como e onde será criado tal estado. Propôs que seja tomado como base as fronteiras de antes de 1967 (sem os territórios ocupados. Afinal, para sobreviver um estado palestino terá que ter territórios suficiente. A proposta de Kerry provocou uma reação desagradável. Foi acusado por um ministro que representa os colonos no Gabinete, Naftali Benet, de ser missionário e obcecado e de interferir na política interna de Israel. Mais tarde, vendo a burrice de suas palavras, se deculpou.

Israel precisa ter muito cuidado ao atacar o Secretário de Estado americano., Não que não se possa criticar ou mesmo se recusar a engolir qualquer pílula que os americanos ponham na boca de Israel. Mas, há limites  momentos adequados.  Acusar John Kerry, um amigo comprovado de Israel no Senado, que está tentando cumprir a difícil missão que seu presidente lhe atribuiu, de anti-Israel?  

Quem conhece o senador Kerry e sua posição pró-Israel, deve respeitá-lo. Israel não pode se dar ao luxo, como pénsam alguns fanáticos de direita, confrontar publicamente o atual governo dos EUA. Não devemos esquecer que Israel, com todos os seus Prêmios Nobel, ainda depende da América em quase todos os campos. 

Estes dias, a assessora de Obama para assuntos internacionais, Susan Rice atacou os dirigentes israelenses considerando os ataques a Kerry como injustos e contra-producentes. Felizmente, como anunciou ontem o NY Times, grupos americanos de apoio a Israel, entendendo a situação dizem apoiar a missão de Kerry. Não querem piorar ainda mais o relacionamento com Washington.

O problema reside com os fanáticos nacional-religiosos, em sua maioria moradores dos assentamentos nos territórios ocupados, e, portando interessados em defendendo a sua propriedade. A TV 10 de Israel mostrou esta semana, algumas casas grandes e até luxuosas construída em terreno grátis e mão de obra barata de palestinos à procura de trabalho, escasso na região já que não podem mais trabalhar em Israel.

Claro que quem possui uma propriedade que custou 60 ou 70.000 U$ e que dentro de Israel custaria mais de um milhão de US$, se oporá a qualquer acordo de paz que provoque sua desocupação. Quer dizer, seu interese pessoal, está acima do nacional.




LEGISLADORES AMERICANOS PEDEM NOVAS SANÇÕES CONTRA O IRÃ

Senadores e congressistas americanos, liderados pelo chairman do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Robert Menendez, estão propondo novas sanções contra o Irã, argumentando que o acordo de princípios com os iranianos não durará e os mesmos voltarão a pôr as turbinas em funcionamento, alguns meses após a suspensão total das sanções. Alegam que o Irã está firmemente decidido a produzir algumas bombas nucleares e tornar-se uma potência atômica na região. 

Quer igualar-se a Israel, que apesar das reticências, ninguém tem mais dúvidas que possui um grande estoque. 

Acreditam que até Obama conseguir restaurar as sanções, haverá tempo bastante para trabalhar, principalmente por que a maior parte da infra estrutura permenecerá intacta. Em Israel, a maioria dos observadores, entendidos em Irã, concordam que os persas  voltarão a marchar firmemente em direção à fabricação de armas nucleares tão logo possam fazê-lo sem prejuízo à  sua economia. 

Por isto, o poderoso lobby israelense, o AIPAC, está estimulando a legislação anti-Irã. Obama, que já está irritado com os israelenses por diversos motivos (vejam a nota acima) vai colocar na coluna negativa esta tentativa Republicana/Israelense de castigar o Irã, que o presidente considera “fera domada”.Já hoje, 06/02/14, apareceu uma novidade. 

O sorridente Min das Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, (foto abaixo) respondendo a críticas da negociadora americana Wendy Davis, escreveu em sua página no FaceBook, que “os reatores Fordow e Arak são inegociáveis. Intocáveis. Precisa mais para desconfiar das intenções iranianas?

Javad Zarif 

MINISTRO DA FAZENDA - ”QUEM NÃO CONTRIBUI NÃO RECEBE”

Na frase acima, o ministro da Fazenda, Yair Lapid, se referia aos religiosos ortodoxos que não trabalham nem estudam como todos os jovens em Israel. Frequentam yeshivot. 

Alegam que graças a eles, os yeshiva-boys, Israel é defendida de seus inimigos. Se não estudarem a Torá todo os dias, Israel está perdido. E outras asneiras que não ocuparei o tempo dos leitores. 

Estes dias, além da revolta do Min da Fazenda, o Supremo Tribunal de Recursos de Israel, a pedido de organizações que defendem a igualdade de direitos, soltou uma decisão mandando suspender pagamentos às Yeshivas (que o repassam aos alunos). Justificando a decisão o juiz relator escreveu, entre outros, “receberam a ordem de alistamento no exército e não se apresentaram. 

Por isto,  não podem receber auxílio do governo. Só se o comando das forças armadas mandar em contrário”. Até hoje, os militares não se manifestaram sobre o assunto. Aguardemos. Como os ortodoxos não estão na coalizão governamental, o 1º. Ministro também não tem pressa. 

Decisão corretíssima do Supremo. Quando o pagamento para estudantes de yeshiva foi instituído eles eram uma pequena minoria. Dado que no meio ortodoxo é proibido evitar gravidês, cresceram e se multiplicaram. Quem não quer prestar serviço militar, simplesmente, transformava-se em estudante de Yeshiva. Hoje, são uma fonte de problemas e insatisfação. Aguardemos o cumprimento da decisão do Supremo.


Foto acima - Alguns religiosos sentem vergonha e se alistam.

APOIAR BOICOTE, MAS SÓ DE PRODUTOS DAS COLÔNIAS

Estou com os escritores Amos Oz e David Grossman. Não podemos combater efetivamente o BDS-Boicote-Desinvestimento e Sanções, sem se opor à ocupação dos territórios que impede a criação de um Estado palestino, a única solução que salvaguarda a integridade física, política e moral do Estado judeu. 

A permanência e a ampliação da colonização da Cijordânia terminará com a criação de um estado binacional, onde judeus e muçulmanos, após decênios de guerras e ódios tentarão viver juntos num mesmo Estado. Ter em mente as inúmeras divisões de países que não conseguiram viver em paz interna com populações diferentes. 

Vejam o destino da Checoslováquia, que voltou a ser dois países: a República Checa e a Eslováquia. Ou a Yugoslávia que se dividiu em 4 diferentes países quando a convivência  entre seus cidadãos de diversas etnias e religiões tornou-se impossível. A própria grande União Soviética deixou de ocupar de diversas repúblicas, hoje independentes de Moscou. 

Algo inacreditável está acontecendo em Israel: uma cegueira generalizada para o óbvio. 

Sem a criação de um país palestino, jamais poderemos viver em paz. Mas de onde vem esta cegueira que atacou este povo reconhecidamente inteligente,perguntará o leitor? 

O país foi sequestrado por um bando de nacional-religiosos cujo fanatismo lhes impede de ver o que vem pela frente. O desaparecimento da maioria judaica em Israel. Espero que Nataniahu, que vem, ultimamente,  demonstrando uma visão mais clara do futuro e reconhecendo a necessidade da criação de um estado palestino, encontre a coragem e a habilidade para permitir a única solução viável: a existência neste pedaço de terra de dois países, um para cada povo.




Na foto, mais um colônia em construção. 

David Tabacof - 06/02/2014

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